"Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio
esperando a resposta ao que chamo de amor".

domingo, 2 de maio de 2010

fim de ano...

.
Ela quase não assistia TV. Chegou do serviço e ligou no jornal das 7.
- O acidente aconteceu à tarde na Avenida Tal, com uma vítima fatal. José Ricardo de Alcântara passa bem e está no hospital Alcydes Botucatu.
Com a mão no coração ela deu um pulo, pegou o telefone e gaguejando disse:
- Acabei de ver na TV o que aconteceu. Posso ir com vocês?
- Já estamos de saída. Apressa aí que daqui 10 minutos eu pego você aí.
Ela nunca havia feito a mala em tão pouco tempo em toda sua vida.
No carro foi orando para que nada fosse grave e que ele estivesse realmente bem.
Chegando no hospital lá estava José Ricardo, deitado, com o rosto intacto e aparentemente bem sem nenhum arranhão.
Ao vê-lo seus olhos brilhavam de alegria, afinal, ele estava bem. Chegou perto dele e lhe beijou a testa. Ele fechou os olhos. Eis que a maior surpresa foi:
- O que você tá fazendo aqui? - perguntou ele desacreditado.
- Como? - respondeu ela desesperadamente.
- O que você veio fazer aqui?
- Ahhh, eu vim te ver, me certificar que você está bem....
- Não precisava. Você não deveria ter vindo.
Seus pais não falaram nada de tão perplexos que estavam. Ela saiu de perto dele e quis chorar. Não chorou. Ele continuou falando:
- Eu quero que você vá embora.
- Eu não tinha intenção de ficar aqui mesmo...
- Que bom. Não preciso de você.
- Você fez suas escolhas. É isso mesmo que você quer, né? Eu não vim aqui pensando em ter algo em troca de você. Não tô te pedindo nada. Estou apenas feliz por você estar vivo. Se você prefere e escolhe que eu saia de perto de você, assim seja.
A frieza dele chegou a assustar. Ela se afastou e chamou o pai dele para leva-la até a rodoviária. Não ficaria mais nem um minuto naquele hospital. Saiu chorando muito e naquele momento perdeu o chão. O mundo ruiu.
O pai de José tentava se justificar pelo filho mas não adiantava. Ela só queria chorar. Chorou um bom tempo no ombro dele e depois foi lavar o rosto.
Indo para a rodoviária o celular dele toca. Era José Ricardo pedindo que ele levasse-a de volta porque ele queria falar com ela e lhe pedir desculpas.
Ela estava com raiva dele, disse que não voltaria de jeito nenhum. Ele pediu para falar com ela.
Ela não disse uma palavra.
- Por favor, volte aqui! Eu fui um ignorante! Eu não escolhi ficar sem você! - disse aos prantos.
Ela não respondia. Apenas chorava.
- Eu não vou melhorar se você não voltar!!!
Ela disse então:
- Você já fez suas escolhas. Adeus. - e desligou o celular.
O pai de José implorou para que ela voltasse e falasse com seu filho, que o desculpasse.
Ela gostava muito do pai de José. Voltaram.
Chegando no quarto, ele ainda estava chorando.
- Que bom que você voltou.
- Eu não aceito seu pedido de desculpas. - ela disse isso e já começou a chorar. - Eu nunca pensei que um dia eu fosse dizer isso para você, mas hoje, agora, eu posso te dizer: você não vale a pena.
Disse isso e saiu para ir embora e deixou José Ricardo chorando como um bebê.
.
Passados uns meses, eles se reencontraram e ela fingiu que não o conhecia. Sequer olhou para os olhos dele. Ela sabia que quando visse seus olhos, ela choraria.
Ele tentou se reaproximar mas notou a frieza vindo da parte dela. Cada movimento que ela fazia ele observava e pensava:"eu preciso falar com ela."
A noite toda foi assim, até que amanheceu e eles se separaram. Antes dela ir embora ele chegou perto dela e disse:
- Posso te dar um abraço?
Ela fechou o olho e chorou. Ele a abraçou por uns quinze minutos. Quando olharam em volta, todos já tinham saído e lá estavam eles, novamente numa manhã fria, juntos, abraçados, chorando e chorando...

Nenhum comentário: